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Prêmio Melhores Escolas do Mundo: conheça as finalistas brasileiras

Escola mineira que atua com a comunidade para solucionar problemas locais e instituição cearense que investe na saúde mental dos estudantes tiveram seus projetos reconhecidos

Com o objetivo de identificar projetos transformadores de escolas ao redor do mundo, o World’s Best School Prize de 2023 (Prêmio Melhores Escolas do Mundo, em português), um dos principais prêmios internacionais de Educação, anunciou as 15 finalistas. Entre elas, temos duas escolas públicas brasileiras: a EM Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte (MG), na categoria Colaboração comunitária; e a EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal (CE), na categoria Apoio a vidas saudáveis.

A premiação é realizada pela T4 Education - plataforma global que reúne cerca de 200 mil professores de mais de 100 países -, em parceria com a Fundação Lemann, mantenedora da NOVA ESCOLA, Yayasan Hasanah, Mellby Gard, Universidad Camilo José Cela, Accenture e American Express. 

World’s Best School Prize divide-se em cinco categorias relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que buscam identificar práticas capazes de transformar a vida dos alunos e impactar positivamente as comunidades onde essas escolas estão inseridas. São elas:

  1. Colaboração comunitária: parcerias com a comunidade para uma Educação holística e inclusiva;
  2. Ação ambiental: práticas sustentáveis por meio da integração curricular e de iniciativas ambientais lideradas por estudantes;
  3. Inovação: abordagens pedagógicas inovadoras e uso da tecnologia para melhorar a Educação;
  4. Superação de adversidades: superação de desafios socioeconômicos ou geográficos para uma Educação de qualidade;
  5. Apoio a vidas saudáveis: instituições que priorizam a saúde física e mental e o bem-estar dos alunos.

O valor total do prêmio é de US$ 250 mil, dividido entre os vencedores de cada categoria. Uma novidade deste ano é o Prêmio Escolha da Comunidade, aberto para todos os finalistas. A escolha será por votação pública, aberta até 26 de setembro. É possível votar em apenas um projeto, independente da categoria. Aquele que obtiver mais votos receberá a filiação ao novo programa da T4 Education chamado Best School to Work (Melhor Escola para Trabalhar, em português). 

Todos os ganhadores serão anunciados durante a cerimônia que acontece em novembro de 2023.

Conheça, a seguir, os projetos das escolas brasileiras que ficaram entre as finalistas.

Parceria entre escola, comunidade e universidade 

Localizada em uma das maiores e mais antigas comunidades do Brasil, o Aglomerado da Serra, na capital mineira, a EM Edson Pisani surgiu a partir da reivindicação de moradoras do local por uma escola onde seus filhos pudessem estudar. 

Atualmente, a instituição oferece Educação Infantil e Ensino Fundamental (Anos Iniciais), além de Educação de Jovens e Adultos (EJA), e tem sido um pólo de articulação de estudantes, famílias e comunidade que pensam em ações junto ao governo e líderes locais para a realização de melhorias na área. 

Desde a sua fundação, há cerca de 30 anos, a escola esteve à frente de uma série de iniciativas, algumas delas em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre elas, evitou que famílias fossem removidas da comunidade em função da construção de uma obra pública, estudou os problemas hídricos e mapeou pontos de água no local e possibilitou a criação de uma linha de ônibus ligando a favela ao metrô.

No último ano, o foco da escola tem sido a gestão de resíduos urbanos e, nesse contexto, surgiu o projeto “Mais favela, menos lixo”. Ele é resultado de uma parceria que envolve os estudantes do Ensino Fundamental e da EJA com a Faculdade de Arquitetura da UFMG. 

“A temática do lixo surgiu em encontros e discussões que realizamos para mapear os problemas coletivos. Há lixo em todo lugar, tanto na escola quanto na comunidade. Por isso, partimos dessa ideia para propor soluções para essa problemática”, conta Floricena Estevam Carneiro da Silva, professora que está a frente das atividades do projeto.

O projeto começou com pequenas ações dos estudantes na escola e, posteriormente, essas práticas avançaram para além dos muros da instituição. Uma delas foi a confecção de ‘placas-gancho’, uma ferramenta simples e barata que permite pendurar as sacolas de lixo na frente das residências. A iniciativa já tem se mostrado eficaz para conter a quantidade de resíduos e sujeira.

“No nosso [projeto] piloto, produzimos 75 placas e distribuímos em dois pontos específicos próximos às casas dos estudantes da EJA e da escola. Queremos ampliar essa produção porque vimos que é uma ação que deu certo”, comenta Floricena. 

Além do lixo produzido nas casas, os entulhos e restos de obras também têm sido um assunto trazido nas discussões com os estudantes. E parte do lixo produzido dentro da escola também já encontrou destinação.

“Os resíduos orgânicos têm sido utilizados em um projeto piloto de compostagem e como adubo para uma horta que está em construção. Já os papéis e garrafas plásticas são destinados a moradores da comunidade que trabalham com a reciclagem desses materiais. Uma delas, inclusive, é nossa aluna do EJA”, destaca Floricena. Segundo ela, com o valor do prêmio pretende ampliar as suas ações, e por consequência, mobilizar mais pessoas 

“Queremos utilizar metade do valor do prêmio para instalação de mais Placas Ganchos/porta-lixo nas casas da favela; e o restante para o desenvolvimento e instalação de lixeiras coletivas, para coleta seletiva, em alguns pontos da favela; ampliação e criação de espaços de compostagem e hortas urbanas com os moradores; e para ações de reuso do entulho da construção civil, gerado pelas obras feitas nas casas da Favela”, comenta a educadora.

Para além do cuidado com o entorno da escola e com o meio ambiente, o projeto tem modificado também o clima e as relações entre as pessoas da comunidade escolar. 

“As famílias reconhecem o trabalho que temos realizado e confiam na gente. Elas veem a escola como um espaço muito positivo para elas e para seus filhos. Por isso, valorizamos muito as ações que ultrapassam os muros da escola e chegam até a comunidade”, finaliza Floricena. 

Empatia e cuidado com a saúde mental

Durante a pandemia, as escolas sofreram com o distanciamento social que, em muitos casos, teve impactos na saúde mental dos estudantes. Isso afetou diretamente a participação, o engajamento e a permanência de diversos jovens no ambiente escolar. Foi nessa perspectiva que teve início o projeto “Adote um Estudante”, da EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves, no município de Carnaubal (CE), que atende alunos do Ensino Médio. 

Diante dos relatos das famílias, das devolutivas de atividades impressas e até mesmo da ausência de alunos nas aulas online, a escola percebeu que era preciso ir atrás desses estudantes, ajudá-los a trabalhar de maneira mais eficaz as competências socioemocionais e oferecer ajuda.

“Temos profissionais de psicologia, mas eles não conseguem suprir todas as demandas. Foi então que tivemos a ideia de buscar psicólogos voluntários para atuar com os estudantes, professores e funcionários da escola”, relata Helton Souza Brito, gestor da escola.

Por meio de divulgações, buscas e indicações nas redes sociais e entre a comunidade, a escola conseguiu alcançar os mais de 40 profissionais que já passaram pelo projeto. 

“Fazemos a identificação dos pacientes por meio das famílias, dos professores, colegas, amigos ou até mesmo da própria pessoa. A partir disso, começamos o acolhimento. No momento em que os jovens e a família estão cientes dos próximos passos, os atendimentos são realizados de forma online, a depender da disponibilidade de cada um”, explica Helton.

O grupo prioritário nos atendimentos são os jovens de 15 a 17 anos, de diferentes contextos familiares e financeiros, mas que apresentavam, sobretudo, dificuldade de ressocialização. Perda de algum familiar, abusos sofridos no período, problemas em relacionamentos familiares e amorosos e descoberta da orientação sexual são alguns exemplos dos casos acompanhados pelos psicólogos do projeto.

Além da psicoterapia convencional, outras formas terapêuticas envolvendo a arte foram utilizadas para promover a saúde mental dos alunos e trazê-los para o convívio da sala de aula, como a pintura, o crochê e o trabalho com miçangas. 

Helton conta que as famílias conseguem ver as transformações e têm enviado agradecimentos e depoimentos para a equipe escolar. Enquanto isso, outras escolas já querem reproduzir o projeto nos seus espaços e têm procurado a instituição.

“Conseguimos observar o impacto do projeto ao acompanhar os alunos que ainda estudam na escola, já que a maioria consegue se inserir nos grupos artísticos, esportivos e permanecer no espaço escolar. As famílias dão retorno sobre o trabalho e agradecem o suporte dado, então percebemos que o nosso trabalho se reflete diretamente neles”.

Se vencer o prêmio, a escola quer criar uma sala para atendimento e acolhimento presencial dos estudantes, professores e funcionários. Segundo Helton, um espaço que possa ser utilizado por todos e que seja seguro e convidativo.

“Temos a consciência de que os problemas de saúde mental foram agravados pela pandemia. Não é algo que atinge só o nosso município, mas o mundo todo. Por isso, vemos a importância do Adote um estudante.” 

 

Link da matéria: https://novaescola.org.br/conteudo/21746/escolas-brasileiras-finalistas-premio-melhores-escolas-do-mundo

 

 

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